Reportagem Especial: Rádio Universitária 24 anos

Enviado por Anderson Cacilhas em qua, 15/05/2013 - 20:23

Em 1987 entrava no ar a rádio TX 107,3 FM, o embrião da atual Rádio Universitária 104,7 FM, uma emissora idealizada e criada por alunos da Ufes integrantes do movimento estudantil Balão Mágico.

A TX 107,3FM começou sua história na cabine oito da Biblioteca Central. A frequência ocupada se referia a uma faixa livre que tinha sido designada pelo Ministério das Comunicações para que uma rádio universitária fosse criada no Espírito Santo. A Ufes havia ficado de fora do processo e os alunos resolveram ocupá-la.

Integrantes do movimento estudantil Balão Mágico elaboraram o conceito da rádio como projeto de extensão para a disciplina de Radiojornalismo, da professora Glecy Coutinho. A rádio pirata entrou no ar com um transmissor colocado no teto da Biblioteca Central da Ufes em 15 de maio de 1987, mas foi fechada pela Polícia Federal 33 dias depois, quando começou a luta para a concessão de uma frequência à Ufes.

O professor do Departamento de Comunicação da Ufes Cléber Carminati, que era integrante do Balão Mágico, explicou que a professora Glecy Coutinho apoiou o projeto e que os alunos ficaram entusiasmados com a experiência de Rádio livre na Itália, já que ela se identificava com a democratização dos meios de comunicação. O curso de Comunicação não tinha laboratório de rádio naquela época.

“Fizemos oficinas de vídeo com a comunidade de São Pedro junto com o Departamento Estadual de Cultura da época. Com o dinheiro que recebemos pagamos um técnico para montar o transmissor e fizemos isso na biblioteca, que foi super receptiva”, disse.

Carminati acrescenta que hoje a rádio está retomando a sua origem. “Vejo agora com bons olhos uma tentava de colocar a rádio como uma voz da Universidade. Acho que neste momento a emissora está dando uma guinada significativa”.

A rádio é inaugurada
Em 1989 a atual Rádio Universitária 104,7 FM foi fundada com o objetivo de atender à comunidade universitária, divulgar a produção do campus e divulgar os pensamentos da comunidade acadêmica em toda a sua multiplicidade e diversidade. Foi neste ano que a emissora teve sua concessão cedida oficialmente e a partir daí 24 anos se passaram.

Desde 2012 a rádio voltou-se novamente para os seus objetivos iniciais, se reaproximando da comunidade acadêmica, ampliando a participação de alunos da Comunicação Social e de outros cursos, de professores de diversas áreas. Além disso, foi ampliada a produção de notícias e conteúdo, e criados novos programas.

A rádio ganhou, ainda, um site onde é possível ouvir a programação, escutar programas já transmitidos, e ter acesso a matérias sobre os mais variados assuntos. O endereço é o www.universitariafm.ufes.br.
A ampliação das plataformas também atingiu as redes sociais que ganharam destaque e links na página da emissora. No Facebook e no Twitter, diariamente, milhares de pessoas têm acesso ao conteúdo produzido pela rádio Universitária.

De acordo com o diretor da Rádio Universitária, Rogério Borges, a emissora fortaleceu a presença da Universidade em sua programação por meio do diálogo com os mais diversos setores da comunidade acadêmica, em especial o Departamento de Comunicação Social da Ufes, e junto com a Superintendência de Cultura e Comunicação da Ufes (Supecc).

“Temos a proposta de dar voz ao que acontece dentro da Ufes. Construímos isso em conjunto. Somos a favor da liberdade, da responsabilidade e da democratização de forma ampla da comunicação e das mídias”, disse.

Ele acrescentou que a rádio deve fugir de um conteúdo de entretenimento vazio, levando ao ouvinte o que ele não está acostumado a receber. “Este é o nosso foco. É possível fazer uma rádio diferente. Ampliamos a produção do conteúdo jornalístico por meio do site. Temos a preocupação de fortalecer as manifestações culturais do Espírito Santo e não estamos de costas para a Universidade”.

A jornalista e professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Conceição Soares, foi diretora da Rádio por cerca de oito anos e explica que aprendeu na emissora a construir uma redação com todas as limitações que existiam, mas com um material humano da melhor qualidade.

“Cobrimos passeata de orelhão, íamos de ônibus, comprávamos lanche com dinheiro do nosso próprio bolso, cobrimos até show de rock do Maracanã pelo orelhão”, lembrou.

Conceição salientou que a participação de estudantes de Jornalismo em uma rádio universitária é importante. “É o lugar de experimentação. Lá você não vai entrar dentro de uma fórmula já estabelecida para cumprir um papel determinado e com limites da sua atuação, com técnicas muito engessadas. No rádio de maneira geral é a melhor escola do jornalismo porque é o lugar do improviso, do ao vivo, onde se aprende a ter jogo de cintura”.

Para o jornalista Vítor Lopes, ex-coordenador de Jornalismo da Rádio, a experiência na emissora pode ser descrita como prazerosa e divertida. Vítor apresenta o programa Faixa a Faixa Universitária. “Foi uma possibilidade de trabalhar com algo que gosto. A rádio dá muita liberdade e no trabalho isso é fundamental. Tive sorte de entrar com uma equipe nova que queria recuperar um pouco os conceitos antigos da Universitária com vontade de movimentar a rádio do jeito que sempre foi sonhado.

Ele acrescentou que durante reuniões ouviu depoimentos incríveis de professores que nunca tinham sido chamados para dar uma entrevista na rádio e que estão na Ufes há mais de 20 anos. “A emissora ficou um bom tempo longe da Universidade, o que vem mudando desde 2012. Este é apenas um passo inicial dentro das transformações da rádio universitária”.

Balão Mágico
Em 1983 alunos do curso de Comunicação Social resolveram criar um grupo dentro da Universidade a partir do movimento contestatório anterior chamado de Grupo do Ócio, composto por alunos de Artes e Arquitetura que se reuniam nas pedrinhas da Ufes, perto do Restaurante Universitário, e que adotava formas irreverentes de protestar contra a estrutura da universidade.

O Balão Mágico iniciou sua trajetória contestadora ao autoritarismo de alguns setores da universidade na aula de Teoria da Comunicação II. Eles apresentaram como trabalho final ao professor Domingos Freitas Filho o Projeto Manifesto, totalmente fora dos padrões exigidos pelo docente, mas propondo a pesquisa como ferramenta de transformação.

Foram reprovados e taxados pelo professor, entre outras coisas, de alienados, mal acostumados com a TV e comparados ao grupo infantil Balão Mágico. O professor batizava naquele momento, provavelmente a contragosto, o mais destacado movimento estudantil da história da Ufes. A partir daí o grupo teve a adesão de alunos de diversos outros cursos e passou a promover diversas atividades artísticas culturais, e protestos inusitados e criativos.